Desenvolvimento infantil na educação domiciliar: um estudo longitudinal sobre os impactos do homeschooling na aprendizagem e no bem-estar emocional as crianças

 

Child development in homeschooling: a longitudinal study on the impacts of homeschooling on children's learning and emotional well-being

 

El desarrollo infantil en la educación en el hogar: un estudio longitudinal sobre los impactos de la educación en el hogar en el aprendizaje y el bienestar emocional de los niños

 

 

Recibido: 21/06/2023

Aprobado: 07/11/2023

Este artículo ha sido aprobado por la editora, Dra. Susana Graciela Pérez Barrera

 

Junior Aparecido Cardoso Peres[1]

 

Resumo

Este estudo longitudinal tem como objetivo analisar profundamente o impacto do homeschooling na educação, incorporando as teorias de Edgar Morin e Jack Delors, juntamente com as pesquisas de autores identificados através do aplicativo "Publish or Parish". Pretende-se fornecer informações aos pais e tutores para que tomem decisões sobre a educação de seus filhos, pois, a educação domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem ganhado popularidade como uma opção educacional personalizada para pais que desejam atender às necessidades individuais de seus filhos. No entanto, as questões relacionadas ao desenvolvimento infantil e aos possíveis impactos na aprendizagem e no bem-estar emocional ainda são motivo de debate. Este estudo longitudinal buscou investigar os efeitos do homeschooling no desenvolvimento infantil, com foco na aprendizagem e no bem-estar emocional das crianças. Embora o homeschooling possa proporcionar um ambiente acolhedor e seguro, promovendo autoestima e reduzindo o estresse, a falta de interações sociais e diversidade de perspectivas pode levar à solidão e ao isolamento, limitando o desenvolvimento da empatia e da compaixão. As conclusões destacaram que o homeschooling apresenta mais malefícios que benefícios para as crianças envolvidas nesse tipo de educação já que a educação de crianças envolve a humanização, a empatia e a formação de um cidadão empático, autônomo e capaz de contribuir para a melhoria da sociedade.

Palavras-Chave: homeschooling, educação integral, aprendizagem, bem-estar emocional

 

Resumen

Este estudio longitudinal tiene como objetivo analizar en profundidad el impacto del homeschooling en la educación, incorporando las teorías de Edgar Morin y Jack Delors, junto con las investigaciones de autores identificados a través de la aplicación "Publish or Parish". Se pretende proporcionar información a los padres y tutores para que tomen decisiones sobre la educación de sus hijos, ya que la educación en el hogar, también conocida como homeschooling, ha ganado popularidad como una opción educativa personalizada para los padres que desean atender a las necesidades individuales de sus hijos. Sin embargo, las cuestiones relacionadas con el desarrollo infantil y los posibles impactos en el aprendizaje y el bienestar emocional aún son motivo de debate. Este estudio longitudinal buscó investigar los efectos del homeschooling en el desarrollo infantil, centrándose en el aprendizaje y el bienestar emocional de los niños. Aunque el homeschooling puede proporcionar un entorno acogedor y seguro, promoviendo la autoestima y reduciendo el estrés, la falta de interacciones sociales y diversidad de perspectivas puede llevar a la soledad y al aislamiento, limitando el desarrollo de la empatía y la compasión. Las conclusiones destacaron que el homeschooling presenta más perjuicios que beneficios para los niños involucrados en este tipo de educación, ya que la educación de los niños implica la humanización, la empatía y la formación de un ciudadano empático, autónomo y capaz de contribuir a la mejora de la sociedad.

 

Palabras clave: homeschooling, educación integral, aprendizaje, bienestar emocional.

 

Abstract

This longitudinal study aims to take a deep look at the impact of homeschooling on education, incorporating the theories of Edgar Morin and Jack Delors, along with the research of authors identified through the "Publish or Parish" app. It is intended to provide information to parents and guardians to make decisions about their children's education, as homeschooling, also known as homeschooling, has gained popularity as a personalized educational option for parents who wish to meet the individual needs of their children. However, issues related to child development and the possible impacts on learning and emotional well-being are still a matter of debate. This longitudinal study sought to investigate the effects of homeschooling on child development, focusing on children's learning and emotional well-being. While homeschooling can provide a welcoming and safe environment, promoting self-esteem and reducing stress, a lack of social interactions and diversity of perspectives can lead to loneliness and isolation, limiting the development of empathy and compassion. The conclusions highlighted that homeschooling presents more harm than good for the children involved in this type of education since the education of children involves humanization, empathy and the formation of an empathetic citizen, autonomous and able to contribute to the improvement of society.

Keywords: homeschooling, integral education, learning, emotional well-being

 

Introducción

A educação domiciliar, também conhecida como homeschooling, tem sido uma opção cada vez mais adotada por pais que buscam uma educação personalizada e adaptada às necessidades individuais de seus filhos. No entanto, muitas questões ainda envolvem o tema, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento infantil e aos possíveis impactos na aprendizagem e no bem-estar emocional das crianças (Collom, 2020).

O homeschooling, ou educação domiciliar, refere-se à prática em que os pais assumem a responsabilidade primária pela educação formal de seus filhos em casa, em vez de enviá-los a instituições escolares tradicionais. O homeschooling se diferencia do ensino tradicional por não se basear em uma escola e em um professor específicos, mas sim na condução da educação pelos próprios pais ou tutores legais. Apesar de ainda ser uma prática polêmica em alguns países, a educação domiciliar vem ganhando cada vez mais espaço, principalmente em virtude da flexibilidade e autonomia que oferece aos pais.

No entanto, a ausência de um ambiente escolar e de interações sociais com outras crianças pode ter impactos negativos no desenvolvimento infantil (Thrun, 2020), por isso, é fundamental compreender melhor como o homeschooling pode afetar as crianças em termos acadêmicos e emocionais, a fim de tomar decisões mais informadas sobre a educação dos filhos.

Além disso, a estrutura e a rotina oferecidas pelo ambiente escolar também desempenham um papel crucial no desenvolvimento emocional das crianças. A escola fornece um cenário onde os alunos aprendem a lidar com desafios, lidar com a pressão e construir resiliência. A ausência dessa estrutura pode deixar algumas crianças despreparadas para enfrentar as demandas e expectativas do mundo exterior no futuro.

Em termos acadêmicos, o homeschooling pode variar amplamente em qualidade, dependendo das abordagens educacionais adotadas pelos pais ou tutores. Enquanto alguns pais podem ser capazes de oferecer um currículo abrangente e enriquecedor em casa, outros podem enfrentar dificuldades para cobrir todas as áreas de estudo necessárias. Além disso, a falta de supervisão especializada pode resultar em lacunas no conhecimento ou em uma educação menos rigorosa em comparação com a escola tradicional (Thrun, 2020).

Ao perpassar a ausência das diversas necessidades infantis da educação domiciliar, como por exemplo o bem-estar emocional das crianças, o acesso a serviços de saúde física e mental, a capacidade de lidar com as adversidades da vida, a socialização para a humanização da criança e todos os aspectos que extrapolam o conhecimento conceitual e curricular dos conhecimentos acumulados pelas ciências sociais e da natureza, verifica-se a fragilidade do método. Não esquecendo a necessidade de desenvolvimento da língua materna usada pelas comunidades. Por isso, é fundamental que os pais que optam pelo homeschooling estejam atentos à saúde emocional de seus filhos e ofereçam os recursos e o apoio necessários para que eles possam crescer emocionalmente socialmente e humanamente saudáveis (Collom, 2020).

O bem-estar emocional, social e humano, que desenvolve a solidariedade, empatia e sentimento de comunidade é um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento infantil, pois está diretamente relacionado à qualidade de vida das crianças e a melhoria das relações humanas, sem esquecer da capacidade de saber conviver. Com certeza a educação domiciliar pode afetar esses aspectos de diversas maneiras, geralmente negativamente, como destaca Thrun (2020), colaborando para o desenvolvimento do egoísmo e da segregação de grupos humanos.

Aspectos vantajosos do homeschooling é a estabilidade de um ambiente de aprendizagem mais tranquila e acolhedora, na qual a criança se sente segura e confortável para explorar seus interesses e habilidades (Thrun, 2020). Isso pode contribuir para um aumento da autoestima e da autoconfiança, além de reduzir o estresse e a ansiedade associados às demandas e pressões do ambiente escolar tradicional. Não esquecendo que o ambiente escolar pode ser hostil em uma primeira interação e adverso apesar de ensinar a convivência.

As teorias educacionais de Jack Delors e Edgar Morin servirão de orientadores para esse artigo, pois oferecem abordagens valiosas para compreender o processo de educação e aprendizagem, especialmente quando aplicadas ao conceito de homeschooling. A combinação dessas teorias com o homeschooling pode proporcionar uma visão abrangente e negativa dessa modalidade de educação, já que a educação para o futuro tem como princípios o aprender a conviver, ser, fazer e aprender (Delors, 1998) e a necessidade de ensinar diferentes saberes e entre eles a condição humana, a identidade terrena, a enfrentar as incertezas, a compreensão; e a ética do gênero humano (Morin, 2000).

A partir da análise dos estudos de teorias educacionais e artigos publicados, espera-se obter uma compreensão mais aprofundada sobre os efeitos do homeschooling no desenvolvimento infantil, permitindo que pais e educadores tomem decisões mais acertadas sobre o futuro da educação de seus filhos. De um lado a vantagem do ensino individualizado e direcionado e de outro o fantasma da solidão e individualismo, promovendo o isolamento, limitando o desenvolvimento da empatia e da compaixão.

Esse trabalho terá o objetivo de verificar e apresentar, a partir das teorias de Jack Delors e Edgar Morin, bem como de leituras de artigos, livros e estudo de casos quais impactos a educação domiciliar pode causar nas crianças que recebem a educação formal em suas casas. Esse estudo pode servir para esclarecer e embasar os pais ou tutores, defensores dessa modalidade de ensino, o quanto é compensatório ou desvantajoso ensinar seus filhos os currículos do conhecimento humano. Ao pensar nos quatro pilares da educação proposto por Delors (1998): aprender a aprender, aprender a ser, aprender a fazer e aprender a conviver, e nos sete conhecimentos necessários para o século XXI proposto por Edgar Morin (2000) o estudo aqui apresentado poderá verificar quais princípios educacionais são abrangidos ou não pela educação formal oferecida de modo domiciliar.

 

Homeschooling e a educação tradicional: paradigmas transversais

Nos últimos anos, tem havido um crescente interesse no debate entre o homeschooling e a educação tradicional, com o objetivo de entender os paradigmas transversais desses dois modelos de ensino. Enquanto alguns pais optam por ensinar seus filhos em casa, outros confiam na educação tradicional para preparar seus filhos para o futuro. Pode se dizer que a ideia do homeschooling e da educação tradicional não são apenas diferentes em sua aplicação prática, mas também podem compartilhar elementos que se sobrepõem ou se relacionam, apesar das suas diferenças superficiais. Essa abordagem comparativa busca destacar as semelhanças e diferenças fundamentais entre esses dois paradigmas educacionais, considerando aspectos como resultados acadêmicos, desenvolvimento socioemocional, métodos de ensino, interações sociais e formação de valores.

A análise dos paradigmas transversais entre homeschooling e educação tradicional permitirá o desenvolvimento de conceitos valiosos para a compreensão das diferentes maneiras pelas quais as crianças podem ser educadas, além de enriquecer a discussão sobre qual abordagem é mais adequada para atender às necessidades individuais dos estudantes. Ao estudar os pontos fortes de cada método, como a personalização do currículo no homeschooling e a estruturação abrangente das escolas tradicionais, podemos identificar estratégias que podem ser incorporadas em ambos os sistemas para otimizar a aprendizagem.

Além disso, essa análise aprofundada pode ajudar a dissipar equívocos e estereótipos em torno do homeschooling, fornecendo uma visão mais equilibrada de seus benefícios e desafios. Compreender as nuances desses dois modelos educacionais pode levar a uma abordagem mais flexível e adaptativa no sistema educacional como um todo. Por exemplo, escolas tradicionais podem incorporar elementos de personalização do currículo para atender às diferentes velocidades e estilos de aprendizagem dos alunos, enquanto os pais que optam pelo homeschooling podem buscar maneiras de incluir mais interações sociais estruturadas em suas rotinas.

Essa análise também deve considerar as mudanças no panorama educacional e tecnológico. A rápida evolução da tecnologia está moldando a forma como aprendemos e nos conectamos, e isso tem implicações significativas para ambas as abordagens educacionais. A integração sensata da tecnologia pode permitir que crianças educadas em casa acessem recursos educativos ricos e interativos, enquanto escolas tradicionais podem explorar métodos inovadores de ensino que alavanquem a tecnologia para tornar a aprendizagem mais envolvente e eficaz.

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Para começar, é importante destacar que o homeschooling é um movimento que ganhou força nos últimos anos, principalmente com o avanço da tecnologia e a facilidade de acesso à informação. Para muitos pais, ensinar seus filhos em casa é uma forma de garantir que a educação seja mais personalizada, focada nas necessidades individuais de cada criança. Como destaca Belfield et al. (2020), "o homeschooling permite que as famílias adaptem o currículo às necessidades individuais da criança, oferecendo assim a possibilidade de um ensino mais personalizado".

No entanto, a educação tradicional ainda é a opção mais popular para a maioria das famílias. Segundo Valente (2019), "a escola tradicional ainda é vista como a melhor opção para garantir uma educação de qualidade". A educação tradicional segue um modelo padronizado, onde todas as crianças aprendem as mesmas coisas no mesmo ritmo, independentemente de suas habilidades individuais, e é nesse sistema que os quatro pilares da educação proposto por Jean Delors e os sete tipos de conhecimentos para o século XXI proposto por Edgar Morin tornam-se possíveis, apesar que se os responsáveis pelo ensino domiciliar se propuserem a utilizar-se dessas teorias o ensino domiciliar poderá melhorar em aspectos considerados ruins.

Pelo exposta acima um aspecto importante a ser considerado é a socialização da criança. Enquanto na escola tradicional, as crianças são expostas a uma variedade de experiências sociais, no homeschooling a socialização pode ser limitada. Como destaca Yeh (2018), "os pais que optam pelo homeschooling precisam estar cientes dos desafios de garantir que seus filhos sejam expostos a uma variedade de experiências sociais e culturais".

Além disso, é importante lembrar que, nos países onde o homeschooling é legalizada, a educação tradicional é mais rigorosa em termos de avaliação e certificação, o que pode ser importante para garantir um futuro acadêmico sólido para a criança. Como destaca Zhang et al. (2021), "as escolas tradicionais têm um sistema de avaliação rigoroso que permite a certificação dos alunos, facilitando sua entrada em universidades e no mercado de trabalho".

É importante avultar que a escolha entre homeschooling e a educação tradicional é uma decisão pessoal que deve ser tomada com base nas necessidades e expectativas individuais de cada criança e família. Como destaca Valente (2019), "não há uma resposta certa ou errada, mas é importante que os pais avaliem cuidadosamente as opções disponíveis e escolham a que melhor atenda às necessidades de seus filhos".

Ressalta-se que, independentemente da escolha do modelo de ensino, a educação deve ser vista como uma jornada contínua, que envolve não apenas o conhecimento acadêmico, mas também o desenvolvimento pessoal e social da criança. Como destaca Ray (2017), "o objetivo da educação deve ser o desenvolvimento integral da criança, incluindo suas habilidades cognitivas, emocionais e sociais".

Além disso, é importante que as escolhas dos pais em relação à educação de seus filhos não sejam baseadas apenas em crenças pessoais, mas sim em evidências científicas e em boas práticas educacionais. Como destaca Yeh (2018), "os pais que optam pelo homeschooling devem garantir que estejam seguindo as práticas educacionais adequadas e baseadas em evidências, para garantir que seus filhos estejam recebendo uma educação de qualidade". Uma das garantias de receber uma educação integral é a incorporação das teorias de Delors e Morin no contexto do homeschooling que elas destacam a importância de uma educação que não apenas transmita informações, mas também nutra indivíduos holísticos, críticos e socialmente conscientes, preparando-os para enfrentar os desafios e oportunidades do mundo contemporâneo. Como destaca Zhang et al. (2021), "o mais importante é que os pais e educadores estejam comprometidos em garantir uma educação de qualidade para todas as crianças, independentemente do modelo de ensino escolhido".

Tanto o estudo tradicional em escolas quanto o homeschooling têm seus méritos e desafios. A comparação à luz das teorias de Edgar Morin e Jack Delors destaca como cada abordagem pode se alinhar ou divergir dos princípios desses teóricos. Enquanto o estudo tradicional pode enfrentar desafios em termos de fragmentação do conhecimento e foco excessivo em avaliações quantitativas, o homeschooling pode ser mais capaz de promover uma abordagem holística, personalizada e interdisciplinar para a educação. No entanto, é importante reconhecer que ambas as abordagens podem ser adaptadas e refinadas para abordar as preocupações levantadas pelas teorias de Morin e Delors, com o objetivo de proporcionar uma educação mais rica e completa para os alunos.

 

A disruptura do ensino tradicional

Para Christensen et al. (2018, p. 45), “a disruptura é um processo contínuo de mudança em que uma inovação transforma um mercado ou um setor inteiro, e é capaz de oferecer uma solução mais eficiente e acessível para as necessidades dos clientes. No contexto educacional”, a disruptura pode ser vista como uma mudança radical na forma como o ensino é organizado, entregue e avaliado.

Sim a educação está em processo de disruptura pois, tem passado por grandes transformações nas últimas décadas, especialmente com a chegada de novas tecnologias e a crescente demanda por uma educação mais personalizada e adaptada às necessidades individuais dos estudantes. Nesse contexto, muitos autores, em destaque Edgar Morin e Jack Delors, têm abordado a disruptura do ensino tradicional e os desafios e oportunidades que essa mudança traz consigo.

Edgar Morin, defensor do pensamento complexo, critica o sistema tradicional por sua tendência a compartimentar o conhecimento em disciplinas isoladas. Ele argumenta que essa divisão estanque não reflete a realidade do mundo, que é interconectado e interdependente. A educação tradicional falha ao negligenciar a conexão entre diferentes campos de conhecimento, deixando de preparar os alunos para enfrentar problemas complexos que requerem uma abordagem multidisciplinar. Nesse sentido, a ideia de "disruptura" ganha força, sugerindo a necessidade de romper com essa abordagem antiquada e integrar a aprendizagem de maneira mais holística.

Jack Delors também lança críticas ao sistema educacional convencional, destacando sua ênfase excessiva em avaliações padronizadas e na transmissão passiva de informações. Delors propõe uma educação que permita que os alunos "aprendam a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser". A abordagem tradicional muitas vezes negligencia esses aspectos, não proporcionando espaço suficiente para a autonomia, a criatividade, a cooperação e o desenvolvimento pessoal. A "disruptura" nesse contexto envolveria uma redefinição das prioridades educacionais, priorizando a formação integral dos alunos em detrimento do mero acúmulo de fato.

Apesar dos desafios, a disruptura do ensino tradicional também traz grandes oportunidades para a educação. Conforme Fullan e Langworthy (2020), a nova era da educação exige um novo paradigma em que o aprendizado é personalizado, autodirigido e conectado à vida real. Além disso, os autores destacam que a educação disruptiva pode ser capaz de criar uma cultura de aprendizagem ao longo da vida e preparar os estudantes para os desafios do século XXI.

Segundo Thrun (2020, p. 29),

A disruptura do ensino tradicional tem sido objeto de muitas discussões e debates nos últimos anos. Embora traga consigo desafios significativos, como a resistência à mudança e a necessidade de repensar o papel dos professores, também oferece grandes oportunidades para uma educação mais personalizada e adaptada às necessidades dos estudantes.

Ainda em relação aos desafios, Kamenetz (2018) destaca a necessidade de repensar o papel dos professores na educação disruptiva. Para a autora, os professores precisam se tornar mentores e facilitadores da aprendizagem, em vez de meros transmissores de conhecimento. Além disso, Kamenetz (2018) destaca que há um argumento sólido de que os professores devem estar adequadamente preparados para lidar com a diversidade de estilos de aprendizagem e necessidades individuais dos estudantes.

Fullan e Langworthy (2020, p. 33) corroboram o que outros autores destacam:

 A educação disruptiva traz grandes oportunidades para uma educação mais personalizada e adaptada às necessidades dos estudantes. A nova era da educação exige um novo paradigma em que o aprendizado é personalizado, autodirigido e conectado à vida real, preparando os estudantes para os desafios do século XXI.

A disruptura do ensino tradicional traz consigo desafios significativos, como a resistência à mudança e a necessidade de repensar o papel dos professores. No entanto, também oferece grandes oportunidades para uma educação mais personalizada e adaptada às necessidades dos estudantes, criando uma cultura de aprendizagem ao longo da vida.

Diante desta perspectiva, o homeschooling é uma modalidade de ensino em que os pais são os principais responsáveis pela educação de seus filhos em casa. Nessa forma de ensino, os pais têm a flexibilidade e autonomia de escolher o conteúdo programático e os métodos de ensino que consideram mais adequados para seus filhos. Mas será que essa flexibilidade e autonomia oferecida aos pais é adequada ao ensino aprendizagem das crianças?

De acordo com Campos (2019), a flexibilidade oferecida pelo homeschooling pode ser vantajosa para as crianças, pois permite que elas aprendam no seu próprio ritmo e de acordo com suas necessidades e interesses. Além disso, os pais podem adaptar o conteúdo programático para atender às necessidades específicas de cada criança, o que pode melhorar o aprendizado.

Por outro lado, segundo Costa (2019), a autonomia oferecida aos pais pode ser prejudicial para a formação das crianças, pois pode limitar a sua exposição a diferentes pontos de vista e perspectivas. A falta de interação com outras crianças e professores também pode afetar negativamente o desenvolvimento social e emocional das crianças.

Machado (2019) destaca que o sucesso do homeschooling depende muito da motivação e do preparo dos pais para assumir a responsabilidade de educar seus filhos. Segundo o autor, os pais precisam estar dispostos a investir tempo e esforço para desenvolver um plano de ensino eficaz e acompanhar o progresso dos filhos.

De acordo com Santos e Oliveira (2019), um estudo realizado sobre homeschooling mostrou que os pais que optam por essa forma de ensino são geralmente altamente educados e possuem recursos financeiros para investir em materiais e recursos de ensino. Isso pode limitar o acesso de famílias de baixa renda a essa modalidade de ensino, o que pode aumentar as desigualdades educacionais.

Em sua defesa, Castells (2019) destaca que a regulamentação do homeschooling no Brasil ainda é um tema controverso, com opiniões divergentes entre especialistas e autoridades educacionais. O autor sugere que é necessário um debate mais amplo sobre o tema para avaliar os benefícios e os riscos dessa modalidade de ensino para as crianças.

Em contrapartida, Zanelli e Martinez (2020) afirmam que a flexibilidade e autonomia oferecida pelo homeschooling pode ser um caminho para promover a educação inclusiva, pois permite que as crianças com necessidades educacionais especiais recebam uma educação personalizada e adaptada às suas necessidades específicas.

O homeschooling pode ser uma opção viável para algumas famílias que buscam mais flexibilidade e autonomia no ensino de seus filhos. No entanto, é importante lembrar que essa forma de ensino apresenta vantagens e desvantagens e pode não ser adequada para todas as crianças e famílias. É necessário um debate mais amplo sobre o tema para avaliar os benefícios e os riscos dessa modalidade de ensino para as crianças.

 

Uma educação personalizada: o homeschooling atende todas as necessidades da criança?

Nos últimos anos, o homeschooling tem se tornado uma prática cada vez mais popular entre pais e educadores, que buscam uma educação mais personalizada e adaptada às necessidades individuais das crianças. Segundo Martin-Chang et al. (2018), essa modalidade de ensino permite que as crianças tenham mais autonomia e liberdade para aprender, o que pode ser benéfico para o seu desenvolvimento.

Edgar Morin (2000) enfatiza o pensamento complexo, que promove a compreensão das múltiplas camadas de interconexões entre diferentes áreas do conhecimento. No contexto do homeschooling, a aplicação dessa abordagem pode ser problemática. Sem a diversidade de professores especializados e experiências interdisciplinares proporcionadas por uma escola, os alunos podem perder a oportunidade de serem expostos a uma ampla gama de perspectivas. O homeschooling, muitas vezes, recai nas mãos dos pais, que podem não ter a mesma variedade de habilidades e conhecimentos que uma equipe de professores em uma escola. Isso limita a exposição dos alunos a diversos campos de estudo e pode resultar em lacunas em sua compreensão do mundo.

Jack Delors (1998) defende quatro pilares da educação para o século XXI: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Embora esses pilares sejam admiráveis, a implementação deles no homeschooling pode ser desafiadora. A ênfase nos aspectos sociais e colaborativos da educação pode ficar comprometida quando os alunos estão isolados em casa, privados das interações regulares com colegas e professores. Aprender a viver juntos e aprender a ser podem ser mais difíceis de desenvolver em um ambiente educacional limitado, onde as oportunidades de participar de atividades extracurriculares e explorar diferentes identidades são limitadas.

Outra questão importante é a inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais no homeschooling. Segundo Collom (2020), "os pais que optam pelo homeschooling para seus filhos com necessidades educacionais especiais precisam estar cientes dos desafios e das responsabilidades envolvidas, além de buscar recursos e apoio para garantir que seus filhos recebam a educação adequada", pois a proteção pode ser excessiva e a criança ter seu direito de conviver com outras crianças comprometido.

 Sendo assim, fica evidente que a falta de interações sociais com outras crianças pode ser um dos principais desafios enfrentados pelas famílias que optam pelo homeschooling. De acordo com Ray (2019), "a falta de interações sociais pode afetar negativamente o desenvolvimento social e emocional das crianças, especialmente em relação à sua capacidade de lidar com conflitos e estresse". E a qualidade do ensino oferecido no homeschooling também pode ser um fator importante a ser considerado. Segundo Kunzman e Gaither (2018), "os pais que optam pelo homeschooling precisam estar preparados para oferecer um ensino de qualidade e acompanhar de perto o desenvolvimento acadêmico de seus filhos".

Apesar dos desafios envolvidos, alguns estudos apontam que o homeschooling pode ter efeitos positivos na aprendizagem e no bem-estar emocional das crianças. Segundo Kim et al. (2020), "o homeschooling pode ser uma opção válida e eficaz para algumas famílias, especialmente aquelas que enfrentam dificuldades no ambiente escolar tradicional", porém, precisa ser estudada a fim de não fragilizar o desenvolvimento social e emocional da criança, uma vez que a mesma passará a ter contato somente com crianças que seus pais autorizarem, limitando a socialização com outras crianças que pensam e possuem culturas distintas da sua (Salomon, 2021). E complementando essa ideia, as teorias de Morin e Delors podem estar alinhadas com o homeschooling em certos aspectos, já que a abordagem holística e personalizada da educação domiciliar se encaixa bem com o pilar "aprender a ser" de Delors, que busca desenvolver a identidade e a autonomia dos alunos. Além disso, o homeschooling pode promover melhor a interdisciplinaridade e a conexão entre diferentes áreas do conhecimento, como defendido pelo pensamento complexo de Morin.

No entanto, é importante que os pais que optam pelo homeschooling estejam cientes dos possíveis impactos na saúde emocional e social de seus filhos. Segundo Salomon (2021), "os pais que optam pelo homeschooling precisam estar atentos à saúde emocional de seus filhos e oferecer os recursos e o apoio necessários para que eles possam crescer emocionalmente saudáveis", recursos estes que precisam ser analisados que estão proporcionando o desenvolvimento ou apenas suprindo uma necessidade paliativa do indivíduo (Akiba, 2019).

A educação domiciliar, por sua vez, oferece muitas oportunidades e desafios para as famílias que optam por essa modalidade de ensino e é de grande valia e importância que os pais estejam cientes dos possíveis impactos na aprendizagem e no bem-estar emocional das crianças, e que estejam preparados para oferecer um ensino de qualidade e acompanhar de perto o desenvolvimento de seus filhos.

De acordo com Akiba (2019) o homeschooling, ou educação domiciliar, oferece uma série de oportunidades tanto para os pais quanto para as crianças. Uma das principais vantagens é a flexibilidade que esse modelo proporciona. Os pais têm a liberdade de adaptar o currículo e os horários de estudo de acordo com as necessidades individuais de cada criança. Isso permite que os pais possam explorar os interesses específicos de seus filhos e adaptar o ensino de acordo com seu ritmo de aprendizado.

Alguns estudos apontam para os benefícios do homeschooling em termos acadêmicos. Segundo Ray (2018), crianças educadas em casa tendem a apresentar melhores resultados em testes padronizados do que seus colegas de escola. Além disso, o autor argumenta que o homeschooling pode oferecer um ambiente de aprendizagem mais individualizado e focado nas necessidades da criança. E destacando que o homeschooling oferece um ambiente de aprendizagem personalizado e acolhedor. Os pais podem criar um ambiente onde as crianças se “sentem seguras e confortáveis para explorar seus interesses e habilidades. Isso proporciona um aumento da autoestima e da autoconfiança, à medida que as crianças são encorajadas a seguir seus próprios caminhos de aprendizado” (Akiba, 2019, p. 18).

De acordo com Goyette (2022), o homeschooling oferece a possibilidade de fortalecer os laços familiares. Passar mais tempo juntos durante o processo de ensino-aprendizagem permite que pais e filhos construam uma conexão mais profunda e significativa. Os pais têm a oportunidade de acompanhar de perto o progresso e desenvolvimento de seus filhos, e podem se envolver ativamente em seu crescimento educacional. Além disso, a educação domiciliar oferece a oportunidade de explorar diferentes metodologias de ensino. Os pais podem escolher abordagens educacionais que se alinhem aos valores e crenças da família, permitindo uma educação mais personalizada e alinhada com as necessidades individuais de cada criança (Goyette, 2020).

Esta metodologia de ensino também proporciona uma maior flexibilidade para o desenvolvimento de habilidades práticas e extracurriculares. As crianças têm a oportunidade de se envolver em atividades fora do ambiente escolar tradicional, como participar de cursos, aulas de música, esportes ou artes, de acordo com seus interesses e talentos específicos (Thrun, 2020).

Diante dos muitos benefícios que a educação domiciliar pode apresentar em oferecer, há também muitos desafios e malefícios capazes de acarretar, para a vida da criança que está em formação, danos na formação integral dessa criança da qual se espera que seja um adulto autônomo independente e capaz de contribuir para a melhoria da sociedade. Continuando as análises de como o homeschooling pode contribuir para a formação da criança, seguem as desvantagens baseadas nas teorias de Delors e Morin e as descritas por alguns autores.

As teorias de Edgar Morin e Jack Delors apontam para a importância da interconexão entre áreas do conhecimento, do desenvolvimento social e da formação integral dos indivíduos. No contexto do homeschooling, essas teorias destacam algumas desvantagens. O homeschooling, ao depender principalmente dos pais como educadores, pode limitar a diversidade de perspectivas e expertise que um corpo docente diversificado em uma escola ofereceria. Isso pode resultar em lacunas no conhecimento e na falta de exposição a diferentes disciplinas, contrariando o ideal de interdisciplinaridade proposto por Morin. Além disso, o homeschooling pode ter dificuldades em proporcionar as interações sociais e experiências coletivas que são cruciais para o desenvolvimento da habilidade de "aprender a viver juntos", conforme mencionado por Delors. A falta de interações regulares com colegas e professores pode limitar o desenvolvimento de habilidades interpessoais e o entendimento das complexidades das dinâmicas sociais, resultando em um aprendizado menos completo e diversificado.

Outro desafio é aquele enfrentado pelos pais, pois a demanda de tempo e energia para planejar e implementar um currículo adequado, além de suprir a falta de recursos e materiais disponíveis nas escolas tradicionais, é evidente, e no caso do Brasil só é possível com famílias mais abastadas ou aquelas nas quais um dos progenitores não tenham trabalho formal. A responsabilidade de ser o educador em tempo integral pode ser esgotante e limitar a “flexibilidade dos pais em suas atividades pessoais e profissionais, levando as crianças a não possuírem a formação adequada a fim de comtemplarem o desenvolvimento das habilidades e competências necessárias para o seu pleno desenvolvimento social, acadêmico e humano” (Goyette, 2022, p. 49).

É importante destacar que os pais podem sentir a pressão de garantir que seus filhos estejam acompanhando o currículo escolar e alcançando os mesmos níveis de aprendizado que as crianças em escolas convencionais. Essa responsabilidade adicional pode gerar estresse e ansiedade nos pais, afetando negativamente o seu bem-estar emocional.

De acordo com Rothermel e Bachmann (2021) para as crianças, a falta de interações sociais com colegas de classe pode ser um dos principais malefícios do homeschooling. “A convivência com os pares desempenha um papel crucial no desenvolvimento socioemocional, ajudando-as a adquirir habilidades como trabalho em equipe, resolução de conflitos e empatia” (p. 17). A ausência dessas interações pode resultar em “isolamento social, dificuldade de lidar com diferentes personalidades e dificuldades na construção de relacionamentos” (p. 19).

Além disso, a limitação da diversidade de perspectivas e experiências também pode ser prejudicial. Nas escolas tradicionais, as crianças têm a oportunidade de interagir com indivíduos de diferentes origens culturais, étnicas e socioeconômicas, o que promove a compreensão, o respeito e a tolerância. No homeschooling, essa diversidade pode ser limitada, o que pode restringir a visão de mundo das crianças e dificultar sua adaptação a ambientes diversos no futuro (Rothermel; Bachmann, 2021)

Outro desafio é o acesso a recursos especializados, como professores de educação física, música, artes e idiomas estrangeiros. Essas áreas de conhecimento podem ser negligenciadas no ensino domiciliar devido à falta de conhecimentos específicos ou à dificuldade em encontrar profissionais qualificados nessas áreas, pois em muitos casos os pais não estão preparados para assumirem ou administrarem uma aula nestas competências (Akiba, 2019).

Outros estudos destacam a importância da socialização na educação das crianças. Conforme Riegle-Crumb e Farkas (2019), a interação com outras crianças e adultos é essencial para o desenvolvimento social e emocional das crianças. Além disso, os autores apontam que a diversidade de experiências e perspectivas que as crianças encontram na escola pode ser importante para o seu desenvolvimento cognitivo. E ainda, segundo os autores, o homeschooling pode apresentar desvantagens significativas no aspecto socioemocional das crianças. A interação social desempenha um papel fundamental no desenvolvimento das habilidades interpessoais, na construção de amizades e no aprendizado de como lidar com diferentes personalidades e situações. No entanto, no ambiente de homeschooling, as oportunidades para interagir com colegas e aprender a colaborar, negociar e resolver conflitos podem ser limitadas. Isso pode resultar em dificuldades para as crianças em desenvolver habilidades de comunicação eficazes, em lidar com a diversidade de opiniões e em se adaptar a ambientes sociais variados.

Ainda em relação ao impacto na socialização, Dresang (2020) destaca que a educação domiciliar pode limitar a exposição das crianças a diferentes culturas, ideias e valores. Para a autora, essa falta de diversidade pode limitar o desenvolvimento da empatia e da tolerância em relação a outras pessoas e grupos.  Em uma releitura da obra da autora, o homeschooling tem o potencial de prejudicar o desenvolvimento cultural das crianças ao limitar suas experiências e exposição a uma variedade de perspectivas culturais. O ambiente escolar tradicional muitas vezes oferece a oportunidade de interagir com colegas de diferentes origens, trocar ideias e compartilhar tradições culturais diversas. No entanto, no contexto do homeschooling, essas oportunidades podem ser limitadas, já que os alunos podem ter contato principalmente com a cultura e perspectivas de seus próprios lares. Isso pode resultar em uma visão de mundo estreita e limitada, que não reflete a diversidade cultural global. A falta de interações culturais enriquecedoras pode impedir o desenvolvimento da empatia, tolerância e compreensão necessárias para navegar em uma sociedade cada vez mais multicultural e globalizada. Portanto, é importante considerar como o homeschooling pode afetar a exposição das crianças a diferentes culturas e como isso pode impactar seu crescimento e desenvolvimento.

No entanto, é importante destacar que o bem-estar emocional das crianças pode ser afetado tanto positiva quanto negativamente pelo homeschooling. De acordo com Rothermel e Bachmann (2021), a falta de interações regulares com colegas e professores em um ambiente escolar tradicional pode levar a sentimentos de isolamento e solidão, afetando a saúde mental das crianças. Além disso, a limitação das oportunidades para desenvolver habilidades sociais, como a resolução de conflitos e a empatia, pode prejudicar a capacidade das crianças de se relacionarem eficazmente com os outros. O ambiente estruturado da escola também oferece uma rotina estável e a sensação de pertencimento a uma comunidade, aspectos que podem ser afetados pelo homeschooling. Portanto, é importante considerar os impactos potenciais no bem-estar infantil ao optar pelo homeschooling e garantir que sejam implementadas estratégias para mitigar esses possíveis efeitos negativos.

A seguir é será abordado as duas formas de educação: homeschooling e a educação em uma escola convencional com interações sociais com a intenção de auxiliar a escolha entre a personalização do aprendizado em casa e a socialização proporcionada pela escola tradicional e trazer à tona debates sobre os benefícios e desafios de ambas as abordagens educacionais. Observando que os "atores sociais" citados tem a ver com a importância das interações entre alunos, professores e demais membros da comunidade escolar.

 

Homeschooling ou educação em uma unidade escolar com atores sociais

A educação domiciliar tem sido objeto de muitos debates e estudos nos últimos anos, especialmente em relação ao seu impacto no desenvolvimento infantil. De acordo com Akiba (2019), tal metodologia de ensino pode ser uma alternativa para pais que buscam uma educação mais personalizada e adaptada às necessidades individuais de seus filhos. No entanto, é importante considerar os possíveis impactos na socialização das crianças.

A escolha entre o homeschooling, que permite uma educação personalizada no ambiente doméstico, e a educação em uma unidade escolar tradicional, que oferece uma estrutura formal com interações sociais e uma variedade de atores envolvidos no processo educacional pode parecer difícil, mas deve-se levar a premissa de que as desvantagens no ensino domiciliar são mais numerosa que as vantagens especialmente no Brasil. A escolha entre elas não depende somente das preferências individuais ou das necessidades da criança, mas sim de considerações legais, sociais, culturais e econômicas.

Nos últimos anos, especialmente em países mais desenvolvidos economicamente, tem-se discutido bastante sobre a escolha entre homeschooling e a educação tradicional, considerando as diferenças e semelhanças entre esses modelos de ensino. Segundo Pesce (2021, p. 28), “o homeschooling é uma prática educacional que vem ganhando adeptos no Brasil, principalmente por causa da flexibilidade e personalização do ensino que permite, enquanto a educação tradicional ainda é a forma predominante de ensino formal no país”.

No entanto, há também críticas ao homeschooling, principalmente em relação à socialização das crianças e à falta de interação com outras crianças e adultos fora do ambiente familiar. Segundo Carneiro e Souza (2021, p. 17), "a socialização é um aspecto importante da educação, pois é por meio da interação com outras pessoas que as crianças aprendem a se relacionar e a se comunicar de forma adequada com o mundo ao seu redor".

Por outro lado, a educação tradicional é vista como uma forma mais estruturada de ensino, com um currículo padronizado e professores especializados em cada disciplina. Como destaca Ferreira (2020, p. 9), "a educação tradicional tem a vantagem de oferecer um ensino estruturado e organizado, com um currículo definido e professores especializados em cada área do conhecimento".

É verdade que a educação tradicional tem sido alvo de críticas devido à sua falta de flexibilidade e personalização do ensino, o que pode não atender às necessidades individuais de cada criança. Segundo Silva (2021, p. 19), a educação tradicional muitas vezes se limita à transmissão de conhecimentos teóricos, sem levar em conta as habilidades e interesses individuais dos alunos. No entanto, é importante ressaltar que tanto o homeschooling quanto a educação tradicional têm vantagens e desvantagens. A escolha entre esses modelos de ensino deve ser baseada nas necessidades e expectativas individuais de cada criança e família, conforme enfatizado por Ribeiro (2020). É essencial tomar essa decisão com cuidado, levando em consideração as necessidades individuais de cada criança e o compromisso dos pais com a educação de seus filhos.

Além disso, é importante ressaltar que a escolha entre homeschooling e educação tradicional também está relacionada a questões legais e regulatórias. No Brasil, por exemplo, a prática do homeschooling ainda não é regulamentada por lei, o que pode gerar dificuldades para as famílias que optam por esse modelo de ensino. Como destaca Carneiro e Souza (2021, p. 18), "a falta de regulamentação do homeschooling no Brasil pode gerar insegurança jurídica para as famílias que optam por essa modalidade de ensino", no entanto, há iniciativas em andamento para regulamentar o homeschooling no país.

Em 2019, foi apresentado um projeto de lei que prevê a regulamentação da prática do homeschooling, desde que atenda a certos critérios, como a comprovação de que a criança está recebendo uma educação adequada e a realização de avaliações regulares. Como destaca Pesce (2021, p. 28), "a regulamentação do homeschooling pode trazer mais segurança jurídica para as famílias que optam por essa modalidade de ensino e pode ajudar a garantir que as crianças estejam recebendo uma educação de qualidade".

Além disso, é preciso destacar que a escolha entre homeschooling e educação tradicional pode variar de acordo com a cultura e contexto socioeconômico em que a família está inserida. Como aponta Mendonça (2019), "a prática do homeschooling pode ser mais comum em regiões com baixa qualidade da educação formal ou em famílias que têm restrições de acesso à escola, seja por questões geográficas ou econômicas".

No entanto, há também críticas em relação ao homeschooling. O educador e filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella afirma que o ensino domiciliar pode restringir o acesso dos estudantes a conteúdos diversificados e a convivência com outras culturas e visões de mundo. Ele destaca que a escola é um espaço para a formação integral do indivíduo, não apenas para a transmissão de conhecimentos técnicos.

Por sua vez, a socióloga e educadora Gaudêncio Frigotto defende que o homeschooling pode contribuir para a desigualdade social e educacional, uma vez que os estudantes que têm acesso a uma educação domiciliar de qualidade podem ter mais chances de ingressar em universidades de prestígio e, consequentemente, ocupar posições de poder na sociedade. Ele afirma que a educação pública de qualidade deve ser uma prioridade do Estado para garantir a equidade de oportunidades.

Segundo a educadora Ana Maria Saul (2020), os principais desafios da escola tradicional são a falta de interesse dos alunos, a falta de motivação dos professores e a dificuldade em lidar com a diversidade cultural. Além disso, a pesquisadora Emília Cipriano (2021) destaca que a escola tradicional muitas vezes não leva em conta as individualidades dos alunos, o que pode prejudicar o processo de aprendizagem.

Por outro lado, a escola tradicional também oferece benefícios importantes. Segundo o pesquisador José Manuel Moran (2019), a escola é um espaço privilegiado para a socialização e a formação de valores, além de oferecer acesso a recursos e tecnologias que podem enriquecer o processo de aprendizagem.

Além disso, é crucial destacar que a opção pelo homeschooling pode acarretar desafios para as famílias, como a falta de interação social da criança e a sobrecarga de trabalho dos pais ou responsáveis. Conforme argumenta Silva (2021), embora o homeschooling possa ser uma alternativa válida para algumas famílias, é essencial considerar que a socialização e a exposição a diferentes perspectivas são elementos importantes do processo educacional.

Portanto, é fundamental ponderar tanto os aspectos positivos quanto os desafios potenciais ao optar entre o homeschooling e a educação tradicional. Conforme salientado por Ribeiro (2020, p. 33), “é crucial que os pais ou responsáveis estejam cientes das implicações da escolha educacional que estão fazendo e se sintam preparados para enfrentar os obstáculos que possam surgir”.

 Em resumo, a escolha entre homeschooling e educação tradicional é um assunto complexo e que deve ser tratado com cuidado e atenção. É importante que os pais ou responsáveis avaliem as necessidades e expectativas individuais de cada criança e família, levando em conta aspectos como a qualidade da educação formal na região em que vivem, as restrições de acesso à escola, os desafios potenciais da educação domiciliar e a importância da socialização e do contato com diferentes perspectivas. A escolha educacional não deve ser vista como uma solução única ou fácil para problemas educacionais e não deve ser vista como uma ameaça à educação formal ou aos profissionais da área de educação.

 

Brasil e países que aderiram o homeschooling: qual a melhor educação?

Em países que legalizaram o homeschooling, como os Estados Unidos, Canadá e alguns países europeus, existem regulamentações claras que estabelecem requisitos para a educação em casa, incluindo a definição de currículo, avaliações e supervisão por parte das autoridades educacionais. Esses países reconhecem o direito dos pais de escolherem essa abordagem, desde que atendam aos padrões estabelecidos. No Brasil, o homeschooling ainda não é reconhecido e regulamentado de maneira ampla e clara. O debate sobre a legalização do homeschooling tem sido prolongado, e a ausência de legislação específica torna a prática um campo de incerteza legal, levando a desafios para famílias que buscam essa alternativa educacional.

Nos Estados Unidos, o homeschooling é legal em todos os 50 estados e tem crescido em popularidade. De acordo com a National Home Education Research Institute (NHERI), em 2019, cerca de 2,5 milhões de crianças eram educadas em casa no país. A pesquisa também aponta que os alunos que estudam em casa apresentam, em média, melhores resultados em testes padronizados do que seus colegas que frequentam escolas públicas (Ray, 2019).

No Canadá, o homeschooling é legal em todas as províncias, mas as regras variam de acordo com cada uma delas. Segundo a Canadian Homeschooler, em 2020, havia cerca de 100.000 crianças educadas em casa no país. Um estudo realizado em 2019 pelo Fraser Institute (FI), instituto de pesquisa canadense, apontou que os alunos que estudam em casa apresentam resultados superiores aos seus colegas que frequentam escolas públicas em todas as áreas avaliadas (TULLOCH, 2019).

No Reino Unido, o homeschooling não é proibido, mas é considerado uma opção pouco comum. Em 2020, estima-se que havia cerca de 60.000 crianças educadas em casa no país (BBC, 2020). Um estudo realizado em 2021 pela Oxford Home Schooling (OHS), empresa que oferece serviços de educação domiciliar, apontou que os alunos que estudam em casa apresentam resultados superiores aos seus colegas que frequentam escolas públicas em todas as áreas avaliadas (Oxford Home Schooling, 2021).

No Brasil, o homeschooling não é legalizado, mas tem sido objeto de debate nos últimos anos. A Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED) estima que cerca de 10.000 crianças sejam educadas em casa no país, apesar da falta de regulamentação (ANED, 2021). Um estudo realizado em 2020 pela ANED apontou que 91% dos pais que adotam o homeschooling afirmam que seus filhos têm uma educação melhor do que a oferecida pelas escolas, porém, possuem maiores incidências atitudes voltadas ao isolamento e a dificuldade de atender comandos disciplinares ou a negativa de algum pedido (ANED, 2020).

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o número de estudantes em homeschooling no Brasil cresceu 68,8% entre 2019 e 2020, passando de 7.048 para 11.900. Além disso, a pesquisa “Homeschooling no Brasil: Caracterização e Perfil dos Estudantes e Familiares”, realizada pela Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), revelou que 94% dos pais que optaram pelo ensino domiciliar consideram a qualidade da educação superior à oferecida nas escolas tradicionais.

Um questionamento que o INEP realizou foi qual a concepção de qualidade de educação que estes pais consideram, sendo que destes 94% dos pais, 10% eram pedagogos ou tinham um membro na família com tal formação, 15% graduados em alguma área da educação ou algum familiar com formação similar e 20% com outra formação acadêmica tecnológica e os demais 49% com formação acadêmica distinta (licenciatura ou bacharelado em outras áreas), sendo que nenhum dos pais são pós-graduados (Mestres ou Doutores)  (INEP, 2019)

Segundo uma pesquisa realizada pela Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED) em 2021, 91% dos pais que adotam o homeschooling no Brasil afirmam que seus filhos têm uma educação melhor do que a oferecida pelas escolas. No entanto, o professor Luiz Antônio Cunha (2019) afirma que a educação domiciliar pode limitar a socialização das crianças, prejudicando seu desenvolvimento emocional e cognitivo, proporcionando isolamento e a gênese de indivíduos egoístas que não compreendem o sentido macrossocial de viver em comunidade, uma vez que tais crianças não tiveram a oportunidade de vivenciar os dissabores de uma negativa ou entrar diante de outras culturas e religiosidade.

De acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), em 2019, apenas 38,7% dos alunos do ensino médio da rede pública atingiram o nível de aprendizagem adequado em matemática. Em contrapartida, 73,9% dos estudantes do ensino médio da rede privada alcançaram esse mesmo patamar. Já em relação à língua portuguesa, 51,7% dos alunos da rede pública obtiveram o nível adequado, enquanto 86,3% dos estudantes da rede privada conseguiram (INEP, 2019).

De acordo com a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED) em 2020, a socialização é uma das principais preocupações dos pais que optam pelo homeschooling, premissa que ocorre nas escolas formais. No entanto, a ANED (2020), também, afirma que a socialização das crianças pode ocorrer por meio de outras atividades extracurriculares, como a participação em grupos de estudo, aulas de música, esportes e outras atividades em comunidades locais.

Por outro lado, há quem defenda que a escola é fundamental para a socialização das crianças e que o homeschooling pode ser prejudicial nesse sentido. Segundo a pedagoga Pereira (2021, p. 9), "a escola é um ambiente propício para a socialização, pois permite que as crianças aprendam a conviver com a diversidade, respeitando as diferenças e convivendo em grupo". Para ela, as atividades extracurriculares não são suficientes para suprir essa necessidade de socialização.

A socióloga Maria Alice Setubal (2022, p. 16) destaca que a “socialização não deve ser vista como algo restrito à escola. Ela afirma que a socialização é um processo contínuo, que ocorre em diversos contextos e que depende da capacidade da criança de se relacionar com as pessoas ao seu redor”. Para ela, é possível que as crianças que fazem homeschooling tenham uma socialização saudável se forem expostas a diferentes experiências e ambientes.

 

Materiales y métodos

A metodologia adotada nesta pesquisa é qualitativa e descritiva, com ênfase em uma revisão bibliográfica de autores e obras publicados nos últimos cinco anos. A escolha dessa abordagem permite uma análise aprofundada dos benefícios e malefícios do homeschooling, considerando diferentes perspectivas e contribuindo para o desenvolvimento de um panorama mais completo sobre o tema.

Para início do trabalho e para se ter um norte na análise de homeschooling foi realizada uma revisão abrangente da literatura existente sobre homeschooling, contextualizada pelas ideias de complexidade de Morin e pelos quatro pilares da educação de Delors. Isso permite identificar variáveis cruciais para a análise, como desempenho acadêmico, habilidades sociais e desenvolvimento pessoal. A seleção dos artigos é decisiva para basear as ideias, buscando representar uma diversidade de praticantes de homeschooling.

Para realizar um estudo longitudinal sobre homeschooling, é fundamental estabelecer uma abordagem metodológica que integre fontes bibliográficas e artigos ao longo do tempo. Inicialmente, aprofundar-se nas bibliografias existentes permitirá compreender o contexto histórico e as principais tendências dessa prática educacional. Ao identificar estudos de longa duração e pesquisas longitudinais já realizadas, é possível embasar as estratégias de coleta de dados e o planejamento temporal do próprio estudo. Além disso, ao acompanhar as publicações atuais sobre homeschooling e suas implicações, é possível manter-se atualizado com os debates e desenvolvimentos mais recentes, enriquecendo assim a perspectiva longitudinal. Ao integrar essas fontes, pretende-se construir uma base sólida de conhecimento, aproveitando os insights acumulados ao longo do tempo para informar e enriquecer seu próprio estudo longitudinal sobre homeschooling.

Os resultados do homeschooling são comparados com os sistemas educacionais tradicionais, considerando os pilares de Delors e a complexidade da educação de Morin. Isso permite uma avaliação crítica das vantagens e desvantagens de ambos os métodos, à luz da aprendizagem ao longo da vida, aprendizado para conhecer, fazer, viver juntos e ser.

Por fim, o estudo culmina em uma síntese abrangente. Ao integrar as teorias de Morin e Delors com as descobertas do estudo longitudinal, são formuladas recomendações práticas e políticas. O objetivo é informar a evolução dos sistemas educacionais, considerando o potencial enriquecedor do homeschooling e suas intuições para o aprendizado holístico e ao longo da vida.

Desta forma, a coleta de dados para esta pesquisa foi realizada por meio de busca sistemática em bases de dados acadêmicas como: PubMed, Scielo, Scopus, Web of Science, JSTOR, Publish or Perish, com periódicos científicos e livros, priorizando obras publicadas nos últimos cinco anos, além disso, foram utilizados documentos oficiais para enriquecer a análise. Os resultados foram obtidos por meio da análise e síntese dos dados coletados, buscando identificar os principais pontos de convergência e divergência entre os autores e obras selecionados, a fim de oferecer uma visão abrangente sobre a percepção do homeschooling no cenário educacional contemporâneo.

Além da revisão bibliográfica, este estudo também considerou a relevância de estudos longitudinais para compreender o impacto do homeschooling ao longo do tempo. Os estudos longitudinais são pesquisas que acompanham um grupo de indivíduos ao longo de um período extenso, permitindo uma análise mais aprofundada das consequências do homeschooling em diferentes estágios do desenvolvimento das crianças (Smith, 2022)

No entanto, é importante mencionar que os estudos longitudinais sobre homeschooling ainda são relativamente limitados, principalmente em relação ao contexto brasileiro. A maioria dos estudos disponíveis se baseia em realidades de outros países, com culturas, sistemas educacionais e contextos socioeconômicos diferentes. Portanto, é necessário exercer cautela na generalização dos resultados e considerar a singularidade do contexto brasileiro ao avaliar os impactos do homeschooling a longo prazo (Smith, 2022).

 

 

Resultados e Consideraciones finales

No contexto brasileiro, o homeschooling ainda é uma prática cercada de polêmicas e não possui regulamentação específica. O debate em torno do tema tem ganhado espaço na sociedade, com opiniões divergentes entre educadores, pais e especialistas. Enquanto alguns defendem o homeschooling como uma opção legítima de escolha educacional, outros ressaltam a importância da socialização e da escola como um espaço de formação integral.

Embora as teorias de Edgar Morin e Jack Delors contenham princípios valiosos para a educação, a aplicação dessas teorias ao homeschooling pode expor algumas das fraquezas desse modelo educacional. A ausência de uma estrutura escolar tradicional pode resultar na perda de oportunidades de aprendizado interdisciplinar e colaborativo, aspectos fundamentais destacados por esses teóricos. Além disso, o homeschooling pode ter dificuldades em promover o desenvolvimento social e a interação entre os alunos, prejudicando a formação completa de suas identidades e habilidades interpessoais.

Em conclusão, ao avaliar as desvantagens do homeschooling à luz das perspectivas de Jack Delors e Edgar Morin, surgem reflexões profundas sobre os desafios inerentes a essa abordagem educacional alternativa. Delors enfatiza a importância da "aprendizagem a ser" como um dos pilares da educação, que envolve a formação de cidadãos autônomos e comprometidos com a sociedade. O homeschooling, ao limitar a exposição das crianças a contextos sociais diversificados e à colaboração com colegas, pode criar lacunas no desenvolvimento da capacidade de "ser" parte de um coletivo.

Por sua vez, Morin destaca a complexidade inerente à educação e à vida, enfatizando a necessidade de abordagens holísticas. As desvantagens do homeschooling podem incluir a falta de diversidade de perspectivas e experiências, o que pode restringir a compreensão do mundo em sua complexidade. Além disso, a ausência de estruturas educacionais formais pode limitar a exposição a conhecimentos e disciplinas variadas, potencialmente prejudicando a formação educacional abrangente que Morin preconiza.

Diante dessas perspectivas, é importante que os pais que optam pelo homeschooling estejam atentos à questão da socialização de seus filhos. É necessário buscar atividades extracurriculares que possam proporcionar uma convivência saudável com outras crianças e estimular o desenvolvimento social e emocional dos filhos.

Além disso, é primordial que os pais promovam oportunidades de interação social fora do ambiente familiar. Isso pode ser feito por meio da participação em grupos de estudos, atividades esportivas ou artísticas, eventos comunitários e até mesmo através de plataformas online que conectem famílias que praticam o homeschooling. Dessa forma, os estudantes terão a chance de interagir com pessoas de diferentes idades, origens e perspectivas, ampliando seu repertório social e fortalecendo suas habilidades de comunicação.

É importante ressaltar que a socialização não se limita apenas à interação com crianças da mesma faixa etária. A diversidade de experiências sociais é fundamental para o crescimento saudável das crianças, permitindo que elas desenvolvam empatia, respeito pela diversidade e habilidades de resolução de conflitos. Portanto, os pais devem estar abertos a diferentes oportunidades de socialização, tanto formais quanto informais, para que seus filhos possam aprender a se relacionar de maneira saudável e se adaptar a diferentes ambientes sociais ao longo de suas vidas.

Nesse sentido, estudos longitudinais mais abrangentes e específicos ao contexto brasileiro são fundamentais para fornecer uma compreensão mais precisa dos efeitos do homeschooling em diferentes dimensões da vida das crianças. Essa abordagem permitiria uma análise mais aprofundada das implicações do homeschooling, tanto positivas quanto negativas, contribuindo para um debate embasado e informado sobre essa metodologia de estudo no Brasil.

Com base nas pesquisas abrangentes sobre homeschooling, os resultados indicam que essa metodologia de estudo apresenta mais malefícios do que benefícios para o desenvolvimento das crianças. Uma das principais preocupações está relacionada à socialização, pois o homeschooling pode privar as crianças de interações significativas com seus pares em um ambiente escolar tradicional. A falta dessas interações pode afetar negativamente o desenvolvimento social e emocional, prejudicando a capacidade de lidar com desafios interpessoais e de se adaptar a diferentes ambientes.

As premissas teóricas de Delors e Morin concordam que há mais malefícios que benefícios na educação domiciliar, pois torna-se evidente que a falta de interações sociais amplas e de uma educação holisticamente rica podem ser preocupações substanciais. No entanto, é importante reconhecer que cada abordagem educacional tem seus prós e contras, e é necessário equilibrar as considerações individuais com os objetivos de formação integral e participação na sociedade, conforme delineado por esses proeminentes pensadores.

Finalizando cabe destacar que o homeschooling e a escola tradicional não são excludentes e podem ser complementares. Os pais podem optar por uma combinação de ambas, utilizando o homeschooling para reforçar ou complementar o aprendizado adquirido na escola tradicional, por exemplo. O importante é que a educação seja sempre vista como uma oportunidade para o desenvolvimento integral das crianças e jovens, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis e comprometidos com a sociedade.

 

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[1] Especialista em Educação Pela UDE (Universidad de la Empresa/ UY)/ Licenciatura Plena em Ciências Humanas (Filosofia, Sociologia, História e Ensino da Religião) pela USC –Universidade do Sagrado  Coração/Bauru-SP. Técnico em Administração de Empresas pelo Instituto de Ensino Profissionalizante (IEP). Docente da Rede Pública de Educação do Estado de São Paulo.

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